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Araraquarense de 70 anos ganha 6 medalhas em mundial de natação

Orselli quebrou recorde de natação em competição na Itália (Foto: Felipe Turioni/G1)Orselli quebrou recorde de natação em competição
mundial na Itália (Foto: Felipe Turioni/G1)

Em toda a carreira, foram 748 medalhas. As últimas seis, as mais especiais. No Mundial de Natação, em Riccione, na Itália, disputado na última semana, Antonio Carlos Orselli, de 70 anos, conquistou três ouros, duas pratas e um bronze nos 100 metros peito (categoria 70-74 anos). Com mais de 50 anos dedicados ao esporte, esse araraquarense pretende encerrar a carreira no fim deste ano. O motivo? Como não consegue deixar de ser competitivo, prefere por um fim às competições a ter que nadar apenas por prazer.

“Eu me cobro muito, não quero simplesmente ganhar a prova, quero melhorar o tempo, quebrar recordes. E isso, às vezes, acaba atrapalhando a minha vida, porque deixo de fazer muitas coisas, como visitar com mais frequência os meus filhos, que não moram em Araraquara”, explica Orselli.

O nadador chegou ao Brasil no último fim de semana com seis novas medalhas para a coleção e uma marca histórica na sua modalidade. Com o tempo de 1’25″25, ele superou o recorde sul-americano de 1’27”90, que também era dele, e ficou a menos de um segundo de bater o recorde mundial de 1’24”71. A marca também o deixou quase seis segundos à frente do vice-campeão, o alemão Juergen Zimmermann.

Orselli conta que o resultado surpreendeu, mas a medalha já era esperada. Segundo o nadador, em abril ele fez uma boa marca no Campeonato Brasileiro, disputado em São Luis (MA), o que lhe deu segurança para vencer o mundial. Mas ele foi além e venceu também os 100 metros borboleta, categoria que não é a sua especialidade.

A prova mais marcante na competição, entretanto, foi a dos 50 metros peito. Orselli venceu o nadador favorito, o japonês Yoshikiko Osaki, vice-campeão olímpico em Roma, em 1960. No mundial de máster, Osaki não perdia há 13 edições.

“Ele é uma pessoa muito simpática. Conversando, perguntei qual tempo ele iria fazer. Ele disse que não estava muito bem e me desejou boa sorte. Pulamos na água e eu ganhei dele. Para a minha carreira, essa vitória foi a mais emocionante”, lembra o araraquarense, que na competição representou o Clube Paineiras do Morumbi, de São Paulo.

Medalhas conquistas no Mundial de Natação, em Riccione, na Itália (Foto: Fabio Rodrigues/G1)Medalhas conquistas no Mundial de Natação, em
Riccione, na Itália (Foto: Fabio Rodrigues/G1)

Gosto pela natação
Orselli aprendeu a nadar aos 13 anos, na piscina da Associação Ferroviária de Esportes. Aos 15 já competia. O sucesso, porém, só veio depois de muito treino. No primeiro campeonato que disputou pelo clube chegou em último, uma piscina depois do penúltimo. Foi então que decidiu praticar mais para não dar mais vexames.

“Eu não gostei nada daquilo, me envergonhei e falei ‘vou treinar porque eu não quero mais ser o último. E último eu nunca mais fui”, lembra.

A dedicação do araraquarense lhe rendeu títulos e medalhas em várias competições regionais no interior de São Paulo. Logo, ele passou a integrar equipes do Estado e então iniciou a carreira como técnico. Ao mesmo tempo, Orselli passou em um concurso para bancário e a nova profissão o afastou das piscinas por 18 anos. Com a aposentadoria em 1992, ele voltou a dedicar-se exclusivamente às provas de campeonatos, conquistando títulos e recordes nacionais e internacionais.

O esporte na vida de Orselli também o aproximou da mulher, que ele conheceu nas piscinas. Juntos, tiveram dois filhos e são avós de cinco netos. “Todos praticam natação e são até melhores do que eu”, brinca o araraquarense. “Esse meio também me proporcionou cultivar muitas amizades e, claro, uma vida mais saudável”, ressalta.

Orselli treina de terça a domingo cerca de duas horas por dia (Foto: Felipe Turioni/G1)Orselli treina de terça a domingo cerca de duas
horas por dia (Foto: Felipe Turioni/G1)

Fim da carreira
“Quando digo aos colegas que vou parar de competir este ano, eles não acreditam e dão risada. Mas eu já me decidi”, conta Orselli. O nadador quer se dedicar mais à família e tem outros planos para 2013. Um deles é dar continuidade a um trabalho voluntário ensinando deficientes físicos e visuais a nadar. Antes de terminar 2012, contudo, ele almeja conquistar mais alguns títulos.

Orselli disputa atualmente o circuito da Copa Unami (União dos Nadadores Máster do Interior). O objetivo dele é bater o recorde das três provas nas dez etapas da competição. No fim deste mês, ele estará em Ribeirão Preto (SP) para participar da Copa Brasil de Natação Máster. Lá, quer bater o recorde sul-americano dos 100 metros medley, dos 100 metros peito e dos 50 metros borboleta. Por fim, em novembro ele competirá no Sul-Americano de piscina curta em Manaus (AM).

Treino e boa alimentação
Para estar bem preparado, o araraquarense treina de terça a domingo cerca de duas horas por dia, intercalando piscina e musculação. Não é de dormir muito, cinco horas de sono já são suficientes para acordar disposto, revela. Quanto à alimentação, é regrado.

“Eu como praticamente de tudo, mas tenho um café da manhã diferenciado, algumas horas depois faço um lanche, almoço com parcimônia, à tarde tem outro lanchinho, janto moderamente e, às vezes, como mais alguma coisinha antes de dormir”, conta.

Segundo ele, manter essa rotina diária o ajuda a ter êxito na prática esportiva. Outro fator importante, diz, é estar isento de preocupações. Para isso, é preciso estar bem emocionalmente e contar com o apoio tanto da família quanto dos amigos.

Orselli reforça ainda que persistência é a chave para se dar bem no esporte e também na vida. “Você tem que perseverar como um todo, porque estamos sujeito a muitos percalços e o esporte ensina a gente a perder. Não é sempre que se ganha. Quem chega em segundo, já perdeu. A gente aprende a receber a derrota, lidar com ela e se preparar para não perder mais. Isso aconteceu comigo”, aconselha o nadador campeão.

Orselli exibe as 748 medalhas conquistas ao longo de 50 anos dedicados à natação (Foto: Fabio Rodrigues/G1)
Orselli exibe as 748 medalhas conquistas ao longo de 50 anos de carreira (Foto: Fabio Rodrigues/G1)
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